O Instituto Butantan anunciou a assinatura de um acordo com a biotech norte-americana Mabloc, com sede em Washington, para cocriar e fabricar o MBL-YFV-01, terapia baseada em anticorpos monoclonais destinada ao tratamento de infecções por vírus da febre amarela. O medicamento foi pensado para pacientes de áreas endêmicas que não foram vacinados e acabaram infectados, oferecendo uma alternativa pós-exposição para reduzir casos graves e mortes.
Segundo o instituto, o desenvolvimento do candidato terapêutico usou a plataforma BRAID, da Mabloc, que recorre a inteligência artificial para selecionar anticorpos com forte capacidade de neutralização viral. Estudos pré-clínicos publicados em 2023 demonstraram que uma dose única de 50 mg/kg eliminou a viremia e evitou evolução para formas graves e óbito em modelos animais.
O acordo concede ao Butantan licença exclusiva para desenvolver e, futuramente, comercializar o produto em países de baixa e média renda. Para a instituição, a parceria amplia sua atuação em imunobiológicos voltados a doenças negligenciadas e fortalece a transferência de tecnologia e a capacitação técnica nacional na produção de terapias complexas.
A decisão ocorre num contexto de aumento de surtos: somente em 2025 foram notificados, nas Américas, 235 casos e 96 mortes por febre amarela, dos quais 111 casos e 44 óbitos no Brasil, segundo dados da Organização Pan-Americana da Saúde. Embora exista vacina disponível gratuitamente pelo SUS, a cobertura insuficiente deixa muitos vulneráveis, realçando a necessidade de opções terapêuticas para quem já foi exposto ao vírus.
A febre amarela tem ciclos silvestre e urbano e é transmitida por mosquitos; no Brasil o atual padrão de transmissão é silvestre, envolvendo mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes. Sintomas iniciais podem regredir em poucos dias, mas cerca de 20% dos infectados progridem para quadros graves com icterícia, hemorragias e risco de morte. O Butantan e a Mabloc afirmaram que a combinação da experiência em produção biológica do instituto com a tecnologia de descoberta da parceira permite uma resposta mais ágil a surtos reais.