A prática criminosa que se intensifica nas margens dos rios Pardo e Grande revela uma face preocupante da violência na região.
Casos recentes em Pontal e Cravinhos destacam um padrão de ocultação que dificulta as investigações. A descoberta de corpos em cursos d'água tem se tornado cada vez mais frequente e alarmante, representando uma tentativa deliberada de ocultar crimes. Isso desafia as forças de segurança na identificação das vítimas, na determinação das causas das mortes e na apuração da autoria dos homicídios.
O rio Pardo é um dos principais focos dessa prática macabra, especialmente nos trechos próximos à cidade de Jardinópolis. Ribeirão Preto, a principal cidade do nordeste paulista, tem registrado diversas ocorrências de corpos encontrados em córregos urbanos ou em áreas ribeirinhas em estado avançado de decomposição. Em fevereiro de 2025, um corpo masculino foi encontrado às margens de um córrego no bairro Adelino Simioni. No mês seguinte, em março, uma mulher foi localizada boiando em um córrego na Vila Virgínia. Ambos os casos ainda estão sob investigação, com identificação e causas da morte pendentes.
Em janeiro de 2024, pescadores descobriram um corpo com os pés amarrados por arame no rio Pardo, nas imediações de Colômbia (SP). A vítima apresentava ferimentos na cabeça, sugerindo uma possível execução. Um dos casos mais emblemáticos ocorreu em 2013, quando o corpo do menino Joaquim Ponte Marques, de apenas 3 anos, foi encontrado no Pardo, em Barretos, após seu desaparecimento em Ribeirão Preto. A investigação concluiu que ele teria sido lançado em um córrego que deságua no rio.
A área próxima à ponte antiga sobre o rio Pardo, em Jardinópolis, se consolidou como um ponto recorrente de desova de cadáveres. Nos últimos anos, diversos achados macabros foram registrados ali, incluindo casos em junho de 2020, quando um corpo foi encontrado dentro de um saco branco boiando nas águas do rio. Em junho de 2024, dois casos em sequência chamaram a atenção das autoridades, com corpos encontrados amarrados e com ferimentos.
De acordo com policiais e peritos, os criminosos utilizam os rios como estratégia para dificultar as investigações. A correnteza transporta os corpos por longas distâncias, enquanto o tempo na água acelera a decomposição, comprometendo vestígios importantes. O descarte em áreas afastadas ou de difícil acesso também reduz as chances de flagrante e atrasa o reconhecimento pelos familiares.
Diante da repetição desses casos, é urgente uma resposta coordenada das forças de segurança pública. Investimentos em monitoramento das áreas críticas, como a ponte velha de Jardinópolis, e a ampliação dos recursos da Polícia Científica e do IML regional são medidas necessárias para combater esse padrão de criminalidade. A população também deve desempenhar um papel essencial, especialmente por meio de denúncias anônimas, que muitas vezes são o ponto de partida para a elucidação dos crimes. Em tempos de violência cada vez mais banalizada, a desova de corpos às margens dos rios se torna uma rotina sinistra na região.