O número de matrículas em cursos superiores a distância no Brasil cresceu de forma expressiva entre 2014 e 2024, segundo aponta o Censo da Educação Superior de 2024, divulgado em setembro de 2025 pelo Inep.
No período, as inscrições saltaram de 1,34 milhão para 5,19 milhões, um aumento de cerca de quatro vezes. Pesquisadores da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP afirmaram que esse avanço ocorreu sem contrapartida proporcional em recursos e estrutura.
Docentes do Departamento de Educação, Informação e Comunicação destacaram que a expansão do EAD foi impulsionada pela difusão das tecnologias de informação desde a década de 1990 e pelo reconhecimento legal da modalidade, a partir da reforma da LDB. No entanto, mesmo com a ampliação do acesso, o financiamento e o investimento em infraestrutura não acompanharam o crescimento das matrículas.
Segundo os pesquisadores, a oferta do EAD no Brasil é majoritariamente privada, chegando a responder por cerca de 94% das vagas, e tem seguido lógica de redução de custos e busca por lucro, o que tem desincentivado aportes em espaços físicos, laboratórios e bibliotecas. Essa estratégia, afirmam, fragiliza atividades presenciais essenciais, como pesquisa laboratorial, vivência acadêmica e extensão universitária.
Além da questão orçamentária, os especialistas identificaram barreiras socioeconômicas e tecnológicas que limitam a efetividade do ensino remoto: custos com equipamentos e acesso à internet, infraestrutura deficiente e desigualdades no letramento digital influenciam o desempenho e a retenção dos estudantes. Essas deficiências, segundo os pesquisadores, acabam por reproduzir e aprofundar desigualdades já existentes.
Apesar das limitações, o EAD contribuiu para ampliar o acesso ao ensino superior e modificou o perfil do estudante brasileiro: houve crescimento de matrículas entre pessoas com mais de 20 anos, de baixa renda familiar, que trabalham em período integral, oriundas de escolas públicas e com pais que não têm ensino superior. As pesquisadoras também registraram maior procura por parte de mulheres em busca de qualificação e mobilidade profissional em locais onde não há oferta presencial.
Para os docentes ouvidos, a expansão do EAD representa uma conquista em termos de democratização do acesso, mas exige políticas públicas e investimentos específicos para garantir qualidade, infraestrutura adequada e equidade entre as modalidades de formação.