Pais, professores e alunos de uma escola da zona Sul de Ribeirão Preto organizaram um movimento para adiar o acesso de crianças e adolescentes aos smartphones, apostando no diálogo coletivo e na mediação escolar. A iniciativa, lançada por um grupo de mães e por profissionais da escola Miró, vem reunindo famílias em rodas de conversa, oficinas de letramento digital e pactos de convivência sobre horários e limites de uso.
Segundo as organizadoras, a proposta não impõe uma idade fixa para ter o aparelho, mas estimula acordos compartilhados, estratégias para enfrentar a pressão entre pares e supervisão ativa. Em poucas semanas, mais de 50 famílias aderiram ao movimento, que busca transformar uma decisão individual em uma prática sustentada pelo grupo.
Os idealizadores citam estudos e recomendações de especialistas para justificar a ação: pesquisas recentes apontam que redução do tempo de tela pode melhorar sono, humor e reduzir estresse em crianças e adolescentes, especialmente quando a mudança é acompanhada por pais. Profissionais de saúde ouvidos pelo movimento relatam aumento de queixas relacionadas à desatenção, ansiedade e dificuldades de interação social associadas ao uso excessivo de telas.
Educadores da escola afirmam que a medida complementa a lei federal de 2025 que restringiu o uso de smartphones nas instituições de ensino ao uso pedagógico ou emergencial. Para eles, o diferencial está no caráter coletivo e educativo do acordo: além de limitar horários, o trabalho inclui orientação sobre riscos das redes sociais, combate ao cyberbullying e alternativas de convivência e atividades presenciais.
Alunos também participam das discussões. Adolescentes relataram reconhecer benefícios das tecnologias, mas apontaram impactos negativos no rendimento, sono e autoestima quando o uso é precoce e sem limites. Psicólogos consultados reforçam que, especialmente na adolescência, proibições absolutas tendem a ser contraproducentes e que combinados claros e negociação são mais eficazes.
Organizadoras ressaltam ainda a importância do exemplo dos adultos: mudanças na rotina familiar, menos uso de telas em refeições e momentos de convívio — são vistas como fundamentais para que o esforço coletivo tenha efeito duradouro. O objetivo declarado do movimento é não demonizar a tecnologia, mas promover uso consciente e proteger o desenvolvimento das crianças por meio de presença, diálogo e regras compartilhadas.