Hospital de Amor identifica genes que indicam resistência à imunoterapia no melanoma

Pesquisadores do Centro de Pesquisa em Oncologia Molecular do Hospital de Amor, em Barretos, avançaram na medicina personalizada ao descobrir quatro genes que podem prever a falta de resposta de pacientes com melanoma à imunoterapia

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Nando Medeiros
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Hospital de Amor identifica genes que indicam resistência à imunoterapia no melanoma

Pesquisadores do Centro de Pesquisa em Oncologia Molecular do Hospital de Amor, em Barretos, avançaram na medicina personalizada ao descobrir quatro genes que podem prever a falta de resposta de pacientes com melanoma à imunoterapia.

Essa descoberta, publicada no Journal of Molecular Medicine, pode otimizar o uso desse tratamento que, apesar de revolucionário, apresenta eficácia variável e alto custo, especialmente para o Sistema Único de Saúde (SUS).

O melanoma, câncer de pele mais agressivo, representa cerca de 4% dos tumores cutâneos, mas é responsável por um número significativo de mortes no Brasil, com cerca de 9 mil casos e quase 2 mil óbitos anuais, segundo o Instituto Nacional de Câncer. A imunoterapia, focada no bloqueio da proteína PD-1, é o padrão para casos avançados, porém entre 40% e 60% dos pacientes não respondem ao tratamento e ainda podem sofrer efeitos colaterais graves.

A pesquisa analisou amostras tumorais de 35 pacientes tratados com imunoterapia anti-PD-1 entre 2016 e 2021. A partir da análise de 579 genes relacionados ao sistema imunológico, foram identificados os genes CD24, NFIL3, FN1 e KLRK1, cuja alta expressão está fortemente ligada à resistência ao tratamento. Pacientes com esses genes expressos em níveis elevados tinham um risco 230 vezes maior de não responder à imunoterapia e apresentaram sobrevida significativamente menor após cinco anos.

Esses genes estão associados a mecanismos que permitem ao tumor escapar da resposta imunológica, como o CD24, que funciona como um ponto de checagem imunológico, e o FN1, relacionado à progressão tumoral. A equipe validou os resultados com dados de coortes internacionais, confirmando a eficácia da assinatura genética para prever a resposta ao tratamento.

A tecnologia utilizada, NanoString, é uma plataforma acessível que pode ser aplicada em hospitais com recursos limitados, facilitando a implementação clínica. Além disso, a assinatura genética mostrou-se preditiva mesmo em estágios iniciais da doença, indicando seu potencial para orientar decisões terapêuticas desde o diagnóstico.

O grupo está em processo de patenteamento da tecnologia e planeja desenvolver um painel comercial para avaliar, antes do início do tratamento, a probabilidade de sucesso da imunoterapia em pacientes com melanoma. Isso pode evitar gastos elevados e desnecessários, que podem chegar a R$ 40 mil mensais, além de poupar pacientes dos efeitos colaterais de terapias ineficazes.

Embora o estudo tenha envolvido um número limitado de pacientes, ele representa um avanço importante para a oncologia personalizada no Brasil, especialmente para a população atendida pelo SUS. O próximo passo será ampliar a pesquisa para validar os resultados e definir níveis de corte para a expressão gênica, tornando o painel uma ferramenta prática para médicos e gestores de saúde.