Novo implante intraocular testado em Ribeirão Preto controla toxoplasmose e dispensa antibiótico oral nos primeiros casos

Na primeira fase dos ensaios, que envolveu cinco pacientes, não foram observados efeitos colaterais e todos apresentaram melhora clínica

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Nando Medeiros
· 2 minutos de leitura
Novo implante intraocular testado em Ribeirão Preto controla toxoplasmose e dispensa antibiótico oral nos primeiros casos

Um dispositivo implantado diretamente dentro do olho mostrou resultados promissores no tratamento da toxoplasmose ocular em testes iniciais realizados em Ribeirão Preto. Desenvolvido por pesquisadores da UFMG e aplicado em parceria com a USP e a Funed, o implante libera a medicação no ponto exato da lesão e tem ação localizada por um período estimado entre três e sete meses. Segundo os responsáveis pelo estudo, a técnica não provoca dor e não prejudica a visão.

Na primeira fase dos ensaios, que envolveu cinco pacientes, não foram observados efeitos colaterais e todos apresentaram melhora clínica. O oftalmologista Rodrigo Jorge, ouvido pela equipe de reportagem, classificou a tecnologia como uma mudança significativa na maneira de tratar a doença, já que substitui o esquema de uso contínuo de comprimidos. Ele destacou ainda a redução drástica da quantidade de medicamento necessária: enquanto o tratamento oral tradicional chega a 2 gramas diárias, o implante libera cerca de 300 microgramas, o que representa uma diminuição da ordem de milhares de vezes na dose administrada.

Os médicos também ressaltaram que, com a medicação liberada localmente, os pacientes não precisaram recorrer ao “resgate” com antibióticos via oral — um recurso que seria usado caso a infecção não estivesse controlada.

Uma das primeiras pacientes a receber o implante em Ribeirão Preto, Michelle Diniz Alves, relatou que os sintomas começaram de forma leve, com leve embaçamento seguido de vermelhidão. Pelo protocolo convencional, ela teria de tomar antibióticos por até 45 dias em doses elevadas e horários rígidos. Com o implante, disse Michelle, o tratamento foi mais simples e mais confortável: “Não preciso ficar me preocupando em tomar remédio o tempo todo; o medicamento está dentro do olho e agora é só acompanhar.”

Apesar dos resultados iniciais positivos, o tratamento ainda não foi liberado para uso amplo. Os pesquisadores informaram que são necessárias ao menos mais duas etapas de testes clínicos no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto para confirmar eficácia e segurança antes de uma possível disponibilização ao público.

O que é a toxoplasmose: A toxoplasmose é causada pelo protozoário Toxoplasma gondii e pode ser transmitida por água ou alimentos contaminados, consumo de carne crua ou mal passada e contato com fezes de felinos. Em muitos casos os sinais são leves e semelhantes aos de uma gripe — febre, dor de cabeça, dores musculares e cansaço — mas a doença pode causar acometimento ocular grave, afetar o sistema nervoso central ou provocar malformações em fetos quando a infecção ocorre durante a gestação.