Pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP-USP), em colaboração com a Universidade de Genebra (Suíça), desenvolveram uma plataforma nanotecnológica capaz de administrar medicamentos diretamente ao tecido pulmonar.
A pesquisa, conduzida por Yugo Araújo Martins e equipe, emprega nanopartículas lipídicas carregadas com bromexina, um expectorante já conhecido, que, quando inaladas, atravessam a camada de muco das vias aéreas e alcançam as células do epitélio respiratório.
Em testes realizados em laboratório com células humanas do trato respiratório infectadas pelo SARS-CoV-2, a formulação reduziu marcadores de inflamação e aumentou a produção da glicoproteína MUC1, uma defesa natural dos pulmões. Segundo Martins, essa via de administração permite concentrar o princípio ativo no órgão alvo, diminui a necessidade de aumentar doses sistêmicas e, consequentemente, tende a reduzir efeitos colaterais em órgãos como fígado e rins.
Os pesquisadores destacaram que os lipídios e a bromexina utilizados são substâncias com aprovação da Anvisa, mas ressaltaram que são necessários mais estudos pré-clínicos e clínicos para confirmar segurança e eficácia em pacientes. A plataforma foi concebida para ser versátil: além da bromexina, pode veicular antivirais, antibióticos e outros fármacos indicados para doenças respiratórias como gripe, infecções bacterianas, tuberculose e asma.
A equipe avalia que a estratégia abre caminho para tratamentos mais direcionados e potencialmente mais eficientes para doenças pulmonares que cursam com inflamação e excesso de muco, mas afirmou que a transposição dos resultados de laboratório para uso clínico dependerá de novas etapas de validação e regulamentação.
