Um estudo realizado pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital de Amor, em Barretos, revelou uma ligação significativa entre a bactéria Fusobacterium nucleatum, presente na placa bacteriana, e o desenvolvimento de câncer de cabeça e pescoço.
Essa bactéria, que se alimenta dos resíduos acumulados nos dentes, já era conhecida por causar doenças gengivais graves, como a periodontite, mas agora também foi associada ao surgimento desses tumores.
O diretor científico do instituto, Dr. Rui Reis, explicou que a presença da Fusobacterium nucleatum foi detectada em mais de 60% dos tumores analisados em uma amostra de mais de 90 pacientes, por meio de uma técnica digital avançada de PCR, semelhante à usada para diagnosticar a Covid-19. A bactéria atua independentemente de outros fatores de risco conhecidos, como tabaco, álcool e HPV, contribuindo diretamente para o aparecimento do câncer.
Curiosamente, o estudo apontou que, apesar de ser um fator de risco, a bactéria também está associada a casos menos agressivos da doença. Pacientes com tumores que continham a bactéria apresentaram uma sobrevida média de cinco anos, superior aos três anos observados naqueles sem a presença da Fusobacterium nucleatum. Esse resultado contrasta com o que se observa em outros tipos de câncer, como o colorretal, onde a bactéria está ligada a tumores mais agressivos.
Além de reforçar a importância da higiene bucal para a prevenção do câncer de cabeça e pescoço, a pesquisa sugere que o monitoramento da bactéria por meio da saliva pode facilitar diagnósticos e tratamentos menos invasivos, sem necessidade de biópsias ou anestesias. Conforme o Dr. Reis, essa abordagem pode permitir intervenções precoces e terapias mais humanizadas, beneficiando pacientes com menor agressividade da doença.
O avanço abre novas perspectivas para a detecção precoce e o manejo clínico dos tumores de cabeça e pescoço, destacando a relevância da saúde bucal na oncologia regional.