Pesquisa mostra melhor desempenho de alunos do ensino médio integral no Enem 2024

O levantamento reforça a relevância do Programa Escola em Tempo Integral, lançado pelo MEC em 2023

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Nando Medeiros
· 2 minutos de leitura
Pesquisa mostra melhor desempenho de alunos do ensino médio integral no Enem 2024

Levantamento do Instituto Sonho Grande, com base nos microdados do Enem 2024, apontou que estudantes de escolas estaduais que oferecem ensino médio em tempo integral tiveram desempenho superior ao de colegas de unidades em turno parcial. Para o instituto, são consideradas escolas de tempo integral aquelas com jornada igual ou superior a sete horas diárias (35 horas semanais).

O estudo identificou a maior diferença na redação: em média, alunos de escolas com oferta de EMI registraram 12 pontos a mais na prova discursiva (nota de 0 a 1.000). Quando a escola tem 100% das matrículas em regime integral, a vantagem chega a 27 pontos. Em matemática, a diferença média foi menor, cerca de cinco pontos a favor das escolas de tempo integral.

A análise também destacou forte presença do modelo no Nordeste. Dados do Censo Escolar 2024 mostram que os estados com as maiores proporções de matrículas em tempo integral no ensino médio foram Pernambuco (69,6%), Ceará (54,6%), Paraíba (54,5%), Piauí (54,1%) e Sergipe (35,2%). No Nordeste, a média dos alunos de tempo integral superou a dos demais em 18 pontos no somatório das áreas do Enem e em 48 pontos na redação.

Em Pernambuco, escolas com oferta integral em todas as matrículas apresentaram até 68 pontos a mais na redação. No Ceará, a vantagem chegou a 134 pontos em comparação com escolas de turno parcial; entre as 100 melhores escolas cearenses no Enem 2024, 98 ofereciam ensino integral.

Ana Paula Pereira, diretora-executiva do Instituto Sonho Grande, atribuiu os resultados ao caráter sistemático da política em redes que priorizaram o modelo ao longo dos anos, com planejamento, formação continuada de professores e acompanhamento pedagógico. Segundo ela, a ampliação do integral tem impacto não só na aprendizagem, mas também nas chances de ingresso no ensino superior e no mercado de trabalho.

O estudo citou ainda pesquisa anterior, em parceria entre economistas e o Instituto Natura, que mostrou maior participação no Enem por parte de alunos de escolas integrais e ganhos especialmente na redação — até 29 pontos a mais em levantamentos passados.

Apesar do crescimento das matrículas em tempo integral entre 2022 e 2024 — de 18,2% para 22,9% em toda a educação básica, e de 14,1% para 24,2% se considerados apenas os ensinos médios — o índice ainda ficou abaixo da meta do Plano Nacional de Educação para 2024 (25%).

Pereira apontou como principais desafios a garantia de financiamento público estável, políticas de apoio a estudantes em situação de maior vulnerabilidade (como programas de incentivos financeiros) e o planejamento das redes estaduais para ampliação consistente da oferta. Ela defendeu também que a expansão seja acompanhada por diretrizes pedagógicas claras, ressaltando que mais horas sem revisão do modelo educativo não garantem melhores resultados.

O levantamento reforça a relevância do Programa Escola em Tempo Integral, lançado pelo MEC em 2023, que prevê apoio técnico e financeiro para ampliar a jornada escolar e tinha meta de inserir milhões de novas matrículas em tempo integral até 2026. Para especialistas, consolidar o integral como política de Estado, com metas mais ambiciosas e foco em estudantes vulneráveis, é condição para ampliar os efeitos positivos observados no Enem e em indicadores socioeconômicos dos jovens.