Uma visão prática e inspiradora sobre como vacinas, rastreio modernizado e teleterapia estão redesenhando a prevenção em Ribeirão Preto.
Por que a prevenção integrada importa
Transformar prevenção em resultado pede mais do que campanhas isoladas: requer integrar vacinação, rastreio e acolhimento em saúde mental desde o primeiro contato com o sistema de saúde. Quando essas frentes se articulam, o cuidado deixa de ser apenas reativo e passa a evitar perdas irreversíveis. Vacinar reduz infecções associadas ao câncer; rastrear com a tecnologia certa detecta lesões antes da doença invasiva; e o cuidado em saúde mental aumenta adesão e bem‑estar, facilitando que as pessoas busquem e mantenham o que precisam.
Esse é o conceito de prevenção integrada: um fluxo contínuo que começa na Atenção Básica e se estende até diagnóstico e tratamento, priorizando o tempo certo de cada ação e o vínculo com o paciente.
Em Ribeirão Preto, a convergência dessas ações pode diminuir incidência e mortalidade por doenças preveníveis e, ao mesmo tempo, fortalecer a confiança no SUS. Experiências e diretrizes mostram que programas organizados — com convocação ativa, tecnologia adequada e garantia de seguimento — geram mais impacto que práticas oportunistas. Na prática local, isso significa mapear necessidades, facilitar o acesso a vacinas e testes e oferecer acolhimento psicológico para ansiedade, medo ou barreiras sociais, criando um ecossistema de prevenção centrado na pessoa.
Vacinação: HPV e febre amarela na prática local
A vacinação é pilar da prevenção primária. A vacina contra HPV, ofertada pelo SUS, protege contra os tipos de maior risco associados ao câncer do colo do útero e outras lesões. O esquema público contempla meninas e meninos a partir de 9 anos e tem recomendações ampliadas para grupos especiais (pessoas vivendo com HIV, transplantados, vítimas de violência sexual, usuários de PrEP, entre outros), conforme situações clínicas. Em Ribeirão Preto, o passo a passo é simples: procurar a UBS mais próxima, verificar a sala de vacinação (ou o CRIE quando indicado) e apresentar documento de identificação e, se necessário, comprovação da condição especial (ex.: TARV para PVHA).
A vacina contra febre amarela também é ofertada amplamente pelo SUS, com recomendação conforme perfil de exposição, idade e cenário epidemiológico. Desde 2017, o Brasil adota dose única para a vida, seguindo orientação da OMS, e ampliou a oferta territorial para reduzir surtos. Na rotina, quem viaja para áreas com recomendação ou reside em municípios com oferta deve ir à sala de vacinação da UBS com o cartão de vacinas. Em campanhas municipais, a Prefeitura divulga locais e horários; vale acompanhar os canais oficiais para eventuais ações extras em Ribeirão Preto.
Passos simples para quem mora em Ribeirão Preto:
- Revise seu cartão de vacinação e histórico na Atenção Básica.
- Agende ou compareça à UBS para atualizar HPV ou febre amarela; leve documento com foto e cartão de vacinas.
- Em situações especiais (HIV, transplantados, PrEP), informe o profissional para registro e orientação conforme protocolo do SUS.
Combinadas ao uso de preservativos e à informação, essas vacinas protegem indivíduos e comunidade. Coberturas elevadas reduzem, no longo prazo, casos de câncer relacionados ao HPV e surtos de febre amarela.
Novas diretrizes para rastreio ginecológico
O Brasil vive uma mudança de paradigma no rastreio do câncer do colo do útero: adoção do teste molecular de DNA‑HPV como método primário, com genotipagem para estratificar risco e protocolos claros de triagem e seguimento. Diretrizes recentes recomendam o DNA‑HPV (com genotipagem parcial ou estendida) como primeira linha, intervalos ampliados — por exemplo, cinco anos após teste negativo — e a priorização de programas organizados para maximizar cobertura e equidade.
Principais mudanças práticas:
- O DNA‑HPV tem maior sensibilidade que a citologia. Identifica HPV oncogênico antes de lesões visíveis e permite intervenções precoces que evitam progressão para câncer invasivo.
- A genotipagem parcial (identificação de HPV16 e 18) direciona casos de maior risco diretamente à colposcopia; demais positivos podem seguir para citologia reflexa ou repetição do teste, conforme fluxos.
- O início do rastreio é recomendado entre 25 e 29 anos (condicional) e fortemente a partir dos 30, com encerramento após 60 anos quando os últimos testes são negativos. Há orientações específicas para gestantes, imunossuprimidas e populações vulneráveis.
No contexto local, a incorporação dos testes moleculares ao SUS e sua oferta gradual pelo Ministério da Saúde aceleram a transição, com implementação progressiva e apoio logístico para estados e municípios. Para o usuário, isso significa que o exame na UBS pode ser o DNA‑HPV; se positivo para alto risco (16/18), o encaminhamento à colposcopia na referência deve ocorrer com prioridade.
Teleterapia em Ribeirão Preto: ampliar acesso
A teleterapia psicológica é peça‑chave da prevenção integrada. Cuidar da saúde mental no primeiro atendimento aumenta adesão a vacinas e rastreios e reduz abandonos. Em Ribeirão Preto, a Prefeitura disponibiliza, por meio do aplicativo Cuidar+On e canal telefônico/WhatsApp, teleatendimentos gratuitos com psicólogos, com agendamento, primeira escuta e continuidade em até 12 sessões com o mesmo profissional, em ambiente sigiloso e sem deslocamentos. No lançamento, a iniciativa registrou centenas de atendimentos no primeiro mês e alta resolutividade, evidenciando demanda e utilidade prática.
Como funciona para o morador:
- Acesso: instale o app Cuidar+On (Android; iOS em previsão) ou ligue/mande mensagem ao número divulgado pelo município para agendar.
- Primeiro atendimento: acolhimento e avaliação inicial, com possibilidade de continuidade por até 12 sessões com o mesmo profissional, fortalecendo o vínculo.
- Benefícios: redução de barreiras logísticas, atendimento mais rápido em sofrimento emocional e suporte quando ansiedade, mobilidade ou trabalho dificultam consultas presenciais.
Como complemento aos esforços de prevenção, a teleterapia acolhe quem evita consultas ou coletas por ansiedade, oferece suporte e motiva a atualizar vacinas e realizar rastreios — fortalecendo o fluxo preventivo.
Integração no primeiro atendimento: fluxo prático
Para transformar intenção em prática, segue um fluxo integrado que a UBS pode aplicar em consultas iniciais e ações de chamamento ativo:
- Identificação ativa: na acolhida, verifique idade, histórico vacinal (HPV/febre amarela), status de rastreio do colo do útero e situação de saúde mental.
- Vacinação na hora: se elegível para HPV ou febre amarela e sem contraindicação, ofereça a aplicação no mesmo atendimento. Registre no cartão e no sistema.
- Oferta de rastreio: para mulheres em faixa‑alvo ou com atraso, agende coleta para DNA‑HPV (ou siga protocolos locais e citologia durante a transição).
- Triagem psicológica breve: aplique perguntas rápidas para sofrimento emocional e, se indicado, agende imediatamente teleterapia no Cuidar+On ou encaminhe para atendimento presencial. Garanta continuidade.
- Encaminhamento e seguimento: para DNA‑HPV positivo (especialmente 16/18), articule colposcopia rápida; para diagnósticos que exijam tratamento, assegure referência, contrarreferência e busca ativa em caso de faltas.
Esse fluxo prioriza pequenas vitórias no primeiro atendimento: uma vacina aplicada, um teste agendado, uma sessão de teleterapia marcada. Cada ação reduz risco individual e fortalece a rede de cuidado.
Depoimentos: profissionais e pacientes
Relatos de profissionais e usuários ajudam a enxergar o impacto humano da integração. Equipes de Ribeirão Preto destacam que a teleconsulta possibilita acolhimento imediato e melhora a adesão, sobretudo em quem relata ansiedade ou dificuldade de locomoção. Usuários do serviço relatam que conversar com um psicólogo sem sair de casa foi decisivo para regularizar vacinas, retomar exames pendentes e enfrentar o medo de procedimentos.
Matérias locais sobre o Cuidar+On registraram, no primeiro mês, centenas de atendimentos, boa resolutividade e predominância de queixas de ansiedade e tristeza — sinais de necessidade e de um elo eficiente entre apoio psicológico e prevenção prática.
Esses relatos, ainda que iniciais, convergem para uma ideia central: quando o serviço público oferece acolhimento rápido e continuidade, a população confia mais e participa das ações preventivas.
Lacunas e propostas para ampliar cobertura
Apesar dos avanços, persistem lacunas em Ribeirão Preto:
- Acesso digital desigual: nem todos têm smartphone ou conectividade estável para teleterapia ou agendamentos.
- Barreiras no rastreio: a transição do Papanicolau para o teste molecular exige infraestrutura, insumos, treinamento e fluxos de referência consolidados.
- Cobertura vacinal aquém do ideal: alcançar altas coberturas demanda mobilização contínua e estratégias específicas para grupos vulneráveis.
- Perdas de seguimento: sem sistemas integrados e busca ativa, há risco de evasão antes da colposcopia ou tratamento.
Propostas práticas para Ribeirão Preto:
- Fortalecer a UBS como hub integrado: ofertar vacinação, coleta para DNA‑HPV e encaminhamento para teleterapia no mesmo fluxo, com equipes capacitadas para orientar cada etapa.
- Expandir autocoleta quando apropriado: para quem enfrenta barreiras de comparecimento, kits com instrução podem aumentar adesão e detecção precoce.
- Implementar registro e busca ativa: cruzar listas de vacinados, rastreados e atendidos em teleterapia para identificar faltosos e reconvocá‑los; acionar agentes comunitários para contato presencial quando necessário.
- Reduzir barreiras digitais: criar pontos de apoio nas UBS para agendamento presencial ou via telefone e disponibilizar salas com privacidade para teleconsulta na unidade.
- Monitorar indicadores locais: cobertura vacinal, proporção de testagens DNA‑HPV realizadas, tempo do teste positivo à colposcopia e adesão às sessões de teleterapia — para ajustar estratégias e priorizar áreas mais vulneráveis.
A articulação entre Prefeitura, referências regionais (colposcopia/oncologia) e apoio técnico do Ministério da Saúde facilita escalar essas propostas. A meta é reduzir desigualdades e assegurar que cada avanço tecnológico ou programático gere benefício real no território.
Referências
Ministério da Saúde — HPV — https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/h/hpv
Ministério da Saúde — Prevenção Febre Amarela — https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/f/febre-amarela/prevencao
Diretrizes Brasileiras para Rastreamento do Câncer do Colo do Útero (prévia) — https://www.febrasgo.org.br/images/2024/relatorio-preliminar-diretrizes-brasileiras-para-o-rastreamento-do-cancer-do-colo-do-utero-parte-i-rastreamento-organizado-utilizando-testes-moleculares-para-deteccao-de-dna-hpv-oncogenico.pdf
Ministério da Saúde — Oferta de tecnologia para detecção do câncer do colo do útero — https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2025/agosto/ministerio-da-saude-oferta-tecnologia-inovadora-100-nacional-para-detectar-cancer-do-colo-do-utero-no-sus
Prefeitura de Ribeirão Preto — Saúde Mental e teleterapia (Cuidar+On) — https://www.ribeiraopreto.sp.gov.br/portal/noticia/setembro-amarelo:-prefeitura-oferece-teleterapia-gratuita-pelo-cuidar+on
Portal016 — Ribeirão Preto amplia oferta de teleterapia gratuita — https://portal016.com/ribeirao-preto-amplia-oferta-de-teleterapia-gratuita-durante-setembro-para-apoiar-saude-mental/