Um ano após a onda de incêndios que, em agosto de 2024, tornou o dia em noite e afetou fortemente áreas do interior paulista, produtores de cana da região de Ribeirão Preto seguem enfrentando consequências econômicas e operacionais. Levantamentos de entidades do setor mostram perda de produtividade, replantios e impactos que só serão totalmente sentidos em 2026.
Relatórios da Associação dos Plantadores de Cana do Oeste de São Paulo (Canaoeste) e da Unica indicam que, em agosto de 2024, o estado teve 658,6 mil hectares de vegetação e plantações consumidos pelo fogo, sendo 328,2 mil hectares atingidos em um único dia. Nos canaviais, pelo menos 231,8 mil hectares foram afetados; 132 mil desses eram áreas que ainda não haviam sido colhidas. Na área de atuação da Canaoeste, cerca de 20% dos canaviais foram danificados nas raízes e considerados perdidos.
Segundo produtores e representantes do setor, muitos talhões incendiados exigiram replantio total. O ciclo da cana faz com que a primeira colheita desses replantios só deva ocorrer em 2026, o que reduz oferta e pressiona a produtividade nas safras intermediárias. A Unica estimou uma queda próxima de 15% na moagem por hectare na safra 2024/2025 — a produtividade passou de 90,6 para 77,6 toneladas por hectare.
O fogo também atingiu estruturas da cadeia além do açúcar e etanol, como a cogeração de energia nas usinas. Com a colheita hoje totalmente mecanizada, o setor destaca que cana queimada representa risco operacional e perdas de rendimento.
Para diminuir a chance de novo desastre, produtores têm adotado medidas de prevenção e resposta coordenadas: monitoramento por satélite 24 horas para emissão rápida de alertas, planos de auxílio mútuo entre produtores para articular caminhões-pipa e equipamentos, priorização de áreas atingidas no manejo agrícola para reduzir material combustível e treinamentos sobre condutas de segurança para trabalhadores rurais. Também há vigilância sobre áreas não canavieiras e locais de maior movimentação, apontados como pontos frequentes de início de fogo.
Especialistas e lideranças do setor alertam que o risco não desapareceu. Condições meteorológicas extremas, o chamado “triplo 30”, com umidade relativa abaixo de 30%, temperaturas acima de 30 ºC e ventos fortes — favorecem a propagação rápida das chamas. Nos últimos dias, um incêndio entre Igarapava e Rifaina saiu do controle e avançou em direção a municípios vizinhos, reforçando a preocupação com novas ocorrências.
Produtores afirmam que o trabalho de prevenção e a coordenação com órgãos públicos serão decisivos nas próximas estações secas, mas reconhecem que os efeitos econômicos dos incêndios de 2024 ainda serão sentidos nos próximos anos.