Grupos organizados vindos de outras cidades aproveitaram shows e festivais realizados em Ribeirão Preto ao longo de 2025 para furtar centenas de celulares, segundo relatos de vítimas, registros policiais e levantamentos de órgãos de segurança.
Uma das afetadas, a manicure identificada apenas como Carla (nome fictício), contou que foi furtada durante o show da cantora Anitta, realizado em 26 de janeiro no Estádio Dr. Francisco de Palma Travassos, no Jardim Paulista. Ela disse que chegou cedo e aproveitou a apresentação, mas só percebeu a falta do aparelho ao deixar o local. Apesar de bloquear o telefone e comunicar o banco, criminosos conseguiram destravar o celular e realizaram compras e uma transferência enquanto o show ainda acontecia. O prejuízo, segundo ela, passou de R$ 4 mil. Carla registrou o boletim de ocorrência pela internet, mas não recuperou o aparelho.
Fontes policiais e análises técnicas indicam que o problema foi amplo: estimativas apontaram mais de 100 aparelhos furtados naquele evento. Na estatística do 8º Distrito Policial, responsável pela área do estádio, foram contabilizados 278 registros de furto em janeiro, número bem acima da média mensal de cerca de 60 ocorrências observada entre fevereiro e junho de 2025. Um levantamento realizado por um grupo de vítimas e especialistas conseguiu rastrear ao menos 85 celulares para cidades como Goiânia, São Paulo e Guarulhos.
Ribeirão Preto recebeu diversos eventos com grande público em 2025, entre eles shows na Arena Nicnet (Capital Inicial em 22 de março, Ludmilla em 31 de maio, Gusttavo Lima em 28 de junho), o João Rock (14 de junho) e o Ribeirão Rodeo Music (final de abril e início de maio). Em várias dessas datas, vítimas relataram furtos e, ao traçar os sinais dos aparelhos, notaram que muitos foram levados para a região metropolitana de São Paulo.
A dinâmica observada segue padrão de atuação de quadrilhas especializadas: equipes de dois a cinco integrantes onde alguns executam o furto e outros recebem e removem os aparelhos do local com rapidez. Multidões, distração do público e falhas na fiscalização em pontos de grande circulação são exploradas pelos criminosos, que agem tanto durante os eventos quanto em áreas próximas, pouco iluminadas ou com segurança reduzida.
Pesquisadores e levantamentos oficiais mostram mudança no perfil do crime. Estudo do Centro de Estudos em Economia do Crime da FECAP apontou queda nos roubos (com violência) e crescimento nos furtos — modalidade considerada de menor risco pelos autores. Em Ribeirão Preto, os furtos de celulares subiram 11,83% no primeiro semestre de 2025, passando de 1.116 registros em 2024 para 1.248 em 2025, colocando a cidade na 8ª posição no ranking estadual.
A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo informou que mantém operações especializadas — como Mobile e Big Mobile — e lançou o programa SP Mobile para integrar dados do IMEI, boletins de ocorrência e informações das operadoras, o que permite rastrear aparelhos reativados e notificar usuários. Ainda assim, autoridades reconhecem dificuldades: nem todos os celulares recuperados voltam aos donos e parte dos aparelhos segue para mercados paralelos ou é exportada.
Especialistas ouvidos defendem ações conjuntas entre organizadores de eventos, polícia e tecnologia: mais monitoramento, policiamento à paisana, câmeras e campanhas de prevenção ao público. Para o público local, a recomendação é redobrar cuidados em shows e locais de grande aglomeração — manter o aparelho seguro, evitar expô‑lo em bolsos traseiros e registrar o IMEI ao abrir ocorrência para facilitar o rastreamento.
