Franca enfrentou em setembro uma forte retração nas vendas de calçados para os Estados Unidos, medida em quase 40% na comparação com o mesmo mês de 2024, segundo dados do Comex Stat. O recuo interrompeu a trajetória de alta acumulada no ano e já trouxe consequências concretas para o setor local. O prefeito Alexandre Ferreira (MDB) estimou que cerca de 2,5 mil empregos diretos foram afetados, com um impacto indireto atingindo até 10 mil pessoas na cadeia produtiva.
Empresários relataram cancelamentos e suspensões de pedidos que estavam prestes a ser embarcados, forçando cortes de pessoal e ajustes operacionais. Um empresário do município disse que havia cronogramas de exportação previstos para ao menos 90 dias, mas que clientes norte-americanos cancelaram encomendas após o início das restrições tarifárias, deixando a empresa sem perspectiva imediata de retomada.
O problema se agrava porque parte da produção francana é voltada exclusivamente ao mercado dos EUA: os modelos têm especificações de forma, medidas e componentes que dificultam sua reposição em outros mercados, como Europa ou para venda interna. Além disso, as exigências de responsabilidade social impostas pelos compradores americanos elevam a complexidade de realocação das linhas de produção.
Em reação ao impacto, representantes da Frente Nacional de Prefeitos participaram de um encontro em Oklahoma City, onde se reuniram com autoridades municipais americanas. Segundo Ferreira, os pares norte-americanos expressaram desaprovação às tarifas, mas reafirmaram o respeito às medidas adotadas. As partes elaboraram documentos mútuos pedindo diálogo bilateral e a construção de um entendimento que permita mitigar os efeitos sobre cidades exportadoras como Franca.
O prefeito informou ainda que os temas relacionados ao comércio e às perdas para municípios exportadores deverão ser discutidos em fóruns internacionais, entre eles a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), marcada para ocorrer em Belém entre 11 e 21 de novembro de 2025, quando representantes brasileiros e estrangeiros terão novas oportunidades para buscar caminhos de solução.
