Relatório da Secretaria Municipal de Água e Esgotos (Saerp) mostrou que Ribeirão Preto desperdiçou diariamente 148,4 milhões de litros de água retirada do Aquífero Guarani, entre a captação nos 123 poços artesianos e a chegada às torneiras da cidade. Do total de 356,1 milhões de litros captados por dia, cerca de 41,7% se perderam ao longo da rede de distribuição por vazamentos visíveis e invisíveis.
Os poços tubulares da cidade, com profundidades superiores a 200 metros, chegaram a captar 14,84 milhões de litros por hora, volume que representa seis piscinas olímpicas por hora e 144 por dia, mas o equivalente a aproximadamente 60 piscinas olímpicas por dia não alcançou os consumidores.
Entre janeiro e outubro de 2025, a Saerp realizou cerca de 16 mil reparos em vazamentos em vias públicas e calçadas, média de 28 intervenções diárias, segundo a própria autarquia. O sistema de abastecimento em “marcha”, em que a água segue direto dos poços aos consumidores sem passar antes pelos reservatórios, foi apontado como fator que agrava o problema, porque amplia as oscilações de pressão e sobrecarrega tubulações já antigas.
Para reduzir as perdas, a Prefeitura afirmou ser necessária uma atuação múltipla: substituição de trechos envelhecidos, implantação de novas redes e a mudança do sistema atual para distribuição por gravidade, em que a água é primeiro armazenada em reservatórios antes de ser liberada. A medida visa reduzir as variações de pressão responsáveis por muitos rompimentos.
A Saerp também informou medidas recentes de ampliação e modernização: implantação de 6 km de novas redes, perfuração e entrega de poços nos bairros Campos Elíseos e Lagoinha, inauguração de um reservatório no Parque Ribeirão e processo licitatório em curso para quatro novos poços, construção de outro reservatório e ampliação de rede, conjunto de obras orçado em R$ 43 milhões e com potencial alcance de mais de 350 mil moradores.
Os números municipais foram colocados no contexto nacional pelo Estudo de Perdas de Água 2025, do Instituto Trata Brasil, que apontou perdas de 40,31% da água produzida no país e um desperdício anual de 5,8 bilhões de m³ de água tratada. O estudo destacou que reduzir o índice nacional para 25% poderia poupar 1,9 bilhão de m³ e gerar ganhos econômicos relevantes até 2033.
No âmbito local, a Saerp também chama atenção para o alto consumo per capita: em 2025 cada habitante de Ribeirão Preto consumiu, em média, 295 litros por dia — cálculo feito a partir do volume captado que efetivamente chega aos usuários dividido pelos 703.710 moradores, segundo o Censo 2022. A autarquia relacionou o consumo elevado ao clima da região e à “sensação de abundância” gerada pelo abastecimento direto do Aquífero Guarani.
Como ação educativa, o Centro Educacional da Saerp recebeu mais de 2 mil alunos do Ensino Fundamental entre janeiro e outubro de 2025, com atividades sobre o sistema de abastecimento, o Aquífero Guarani e práticas para reduzir desperdício em casa e na escola.