Onze dias depois da entrada em vigor das tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos sobre grande parte das exportações brasileiras (vigentes desde 6 de agosto), empresas e produtores do interior paulista já registraram queda nas vendas e mudaram estratégias para minimizar perdas.

No setor de confinamento bovino, produtores relataram redução de até 10% no faturamento e impactos nas remessas de carne para o mercado norte-americano; a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC) estimou prejuízos que podem chegar a US$ 1 bilhão.

Em Barretos, responsáveis por confinamentos afirmaram que a demanda americana, concentrada no processamento industrial para produtos como hambúrgueres, foi diretamente afetada, e que buscam clientes em outras regiões. Empresas de Ribeirão Preto e municípios vizinhos também sentiram o efeito.

A Zinho Indústria de Alimentos, de Ribeirão Preto, começou a realocar parte das vendas externas para México, Argentina, Uruguai e Paraguai e avalia abrir canais no Canadá e na Europa, segundo seu departamento comercial. Executivos da empresa disseram que contratos assinados antes da medida foram mantidos, mas que, desde 13 de agosto, o ambiente de negócios se tornou mais cauteloso e exigiu reposicionamento de portfólio — priorizando alimentos menos processados e com apelo natural para tentar preservar fatias do mercado estrangeiro.

Em Sertãozinho, a Usina São Francisco, que exporta açúcar orgânico para dezenas de países — alerta para efeitos mais expressivos em médio prazo caso as tarifas persistam. No ano passado, mais da metade das remessas da usina teve como destino os Estados Unidos; a empresa destacou a dificuldade de substituir rapidamente o volume habitual, que ultrapassa dezenas de milhares de toneladas por ano. O setor cafeeiro também entrou na lista de preocupações.

Exportadores da Alta Mogiana, que abastecem nichos gourmet e orgânicos nos EUA, afirmaram que a redução de preços internacionais e perda de mercado para concorrentes como Colômbia e Etiópia ameaçam investimentos em qualidade e práticas sustentáveis. Representantes do setor pedem que o café seja considerado exceção às tarifas.

Embora ainda não tenham sido anunciadas demissões em massa ou cortes generalizados na produção na região, consultores e empresários projetam efeitos em cascata: menos exportações levam a menor produção, que tende a reduzir investimentos e contratações. Indústrias que fornecem maquinário e serviços para exportadores também apontaram desaceleração de pedidos como risco futuro.

O governo federal anunciou um plano de contingência com ações prioritárias para pequenos produtores considerados mais vulneráveis, embora detalhes não estivessem finalizados até 17 de agosto.

Ainda em agosto está prevista uma comitiva brasileira ao México para tentar abrir novos canais comerciais. Economistas ouvidos afirmam que a mudança forçada pode acelerar a diversificação de mercados, e que países que percam espaço nos EUA podem redirecionar vendas para mercados onde o Brasil já atua, abrindo janelas de oportunidade para produtores e indústria locais.