Desde sua fundação em 1955, a Festa do Peão de Barretos mantém vivas as tradições dos boiadeiros que marcaram a história do interior brasileiro.
Essas práticas culturais, originadas nas comitivas que transportavam gado de regiões como Mato Grosso e Minas Gerais até São Paulo, refletem o cotidiano e a fé dos trabalhadores rurais que contribuíram para o desenvolvimento das cidades e da identidade nacional.
Uma das tradições mais emblemáticas é a "queima do alho", um ritual gastronômico que nasceu da necessidade de alimentar os peões durante as longas jornadas pelo sertão.
Preparada em fogo de chão, essa refeição reforçada inclui arroz carreteiro, feijão tropeiro, churrasco e paçoca de carne, pratos que repõem a energia dos trabalhadores.
A origem do nome tem duas versões: uma refere-se ao início do processo de cozimento com o alho, e a outra, mais divertida, sugere o receio das mulheres quanto à habilidade dos homens na cozinha. Desde 1958, a queima do alho é tema de um concurso gastronômico que ocorre anualmente na festa, e em 2025 está programado para o dia 24 de agosto.
A devoção a Nossa Senhora Aparecida também ocupa papel central no evento. Antes das competições de montaria, é realizada uma cerimônia religiosa em homenagem à padroeira do Brasil, símbolo de proteção e fé para os peões. Essa religiosidade se manifesta em pequenos detalhes, como imagens da santa carregadas junto ao corpo e adornos em roupas e acessórios, expressando a profunda conexão espiritual dos participantes.
Outro elemento cultural fundamental é o berrante, instrumento feito de chifre de boi e revestido de couro, que servia como meio de comunicação nas comitivas. Com cinco toques principais, o berrante indica momentos como a saída da boiada, o perigo e a hora do almoço. O som inconfundível do berrante é celebrado em um concurso próprio, realizado desde 1956 durante a Queima do Alho, que premia os melhores tocadores.
A música sertaneja, que tem raízes na moda de viola, também está presente na festa. A viola caipira, com suas dez cordas e origem europeia, ganhou características únicas no Brasil e é acompanhada de canções que narram a vida rural, a religiosidade e as emoções do campo. Essa tradição musical foi transmitida de geração em geração e é a base da música sertaneja contemporânea.
Por fim, a catira, dança folclórica caracterizada por batidas rítmicas de mãos e pés, representa a mistura cultural indígena, africana e portuguesa. Executada tradicionalmente por homens, a dança é acompanhada por instrumentos como a viola e é uma das atrações durante toda a festa, especialmente no dia da queima do alho.
Essas cinco tradições — queima do alho, devoção a Nossa Senhora Aparecida, berrante, moda de viola e catira — continuam a ser celebradas em Barretos, preservando a rica cultura dos peões de boiadeiro e fortalecendo a identidade do interior paulista.