Um ano do acidente com voo da Voepass: famílias cobram investigação e responsabilização

Familiares mantêm a cobrança por respostas e punição aos responsáveis enquanto as investigações oficiais continuam em andamento.

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Nando Medeiros
· 2 minutos de leitura
Um ano do acidente com voo da Voepass: famílias cobram investigação e responsabilização

No último final de semana completou um ano da queda do avião da Voepass em Vinhedo (SP) que matou 62 pessoas, 58 passageiros e quatro tripulantes.

Familiares mantêm a cobrança por respostas e punição aos responsáveis enquanto as investigações oficiais continuam em andamento.

Entre os parentes que lembraram a data está a jornalista Adriana Ibba, de 38 anos, que perdeu a filha Liz, de três. Adriana, vice-presidente da associação que reúne as famílias das vítimas, afirma que a dor persiste diariamente e que se dedicou à busca por esclarecimentos e assistência aos atingidos. Outra familiar, a professora universitária Araceli Marins, de 43 anos, segue marcada pelo último áudio enviado pelo marido, Deonir Secco, de 59, antes do embarque.

As famílias apontam negligência da empresa e citam indícios apontados em apurações preliminares e em reportagem que revelou conversas atribuídas a funcionários do setor de manutenção, nas quais um deles teria se mostrado arrependido por não ter comunicado problemas na aeronave horas antes do voo. A acusação levou parentes a pedir investigação rigorosa e responsabilização criminal e civil.

O Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) mantém como uma das principais hipóteses a formação severa de gelo nas asas, que poderia ter provocado perda abrupta de controle. No relatório preliminar constam sinais de advertências sobre formação de gelo, perda de velocidade e tentativas da tripulação de recuperar a situação. O órgão ainda precisa completar ao menos quatro etapas técnicas antes de concluir o relatório final, entre elas análises adicionais e consultas a países envolvidos.

Paralelamente, a Polícia Federal conduz investigação criminal, sem divulgar detalhes por se tratar de inquérito em andamento. Advogados ouvidos pelas famílias afirmam que responsabilização penal depende de comprovação de omissão dolosa ou culposa nas medidas de segurança.

A Voepass divulgou nota afirmando que o acidente resultou em danos irreparáveis e que, em mais de três décadas de operação, jamais havia registrado um episódio similar. A empresa declarou estar atuando de forma transparente junto às autoridades e que o processo de indenizações está em estágio avançado. A Anac confirmou que o ATR 72-500 envolvido, fabricado em 2010, tinha certificados de matrícula e aeronavegabilidade válidos no momento do acidente e que as licenças dos quatro tripulantes estavam em dia.

Em junho de 2025 a Anac cassou, sem possibilidade de recurso, a autorização de operação da Voepass, decisão tomada por falhas identificadas em fiscalizações anteriores e não diretamente em razão do acidente. A medida foi recebida com alívio por parte de alguns familiares, que, mesmo assim, afirmam que a sensação de justiça só ocorrerá quando houver identificação clara de responsáveis e aplicação das penas cabíveis.

No campo das indenizações, a Defensoria Pública de São Paulo tem atuado no atendimento às famílias, oferecendo suporte jurídico e psicossocial e facilitando acordos extrajudiciais. Segundo a instituição, cerca de 85% dos familiares aderiram ao programa e a maioria já recebeu os valores acordados com a seguradora.

Enquanto aguardam o desfecho das apurações técnicas e criminais, parentes das vítimas dizem buscar força para seguir a rotina e manter a cobrança por transparência e justiça. A expectativa delas é que as conclusões das investigações impeçam a repetição de tragédias semelhantes no setor aéreo.