Um estudo liderado por pesquisadores brasileiros mostrou que a diferença entre a glicemia na chegada ao hospital e a glicemia média estimada pelos meses anteriores, o chamado delta glicêmico, está associada a maior extensão do infarto e à redução da fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE).
O trabalho foi publicado nesta sexta-feira, 10 de agosto de 2025, na revista Diabetology & Metabolic Syndrome.
A análise incluiu 244 pacientes atendidos no Hospital São Paulo (Unifesp) que receberam fibrinolítico em até seis horas do início dos sintomas e depois foram transferidos para a unidade. Houve participantes com diabetes, pré-diabetes e sem diabetes. Para mensurar o dano cardíaco, os pesquisadores realizaram ressonância magnética 30 dias após o evento agudo.
O delta glicêmico é calculado subtraindo-se a glicemia média estimada a partir da hemoglobina glicada (HbA1c) da glicemia de admissão. Segundo os autores, valores mais elevados desse indicador corresponderam a infartos de maior massa e a FEVE mais baixa, independentemente do histórico de diabetes.
O grupo envolveu cientistas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), do Instituto Dante Pazzanese, do Hospital Israelita Albert Einstein e da Université Laval, do Québec. O trabalho recebeu apoio da FAPESP por meio de um Projeto Temático (12/51692–7) e tem entre seus autores Henrique Tria Bianco, Francisco Antonio Fonseca e Maria Cristina Izar.
Os pesquisadores destacam que o delta glicêmico pode ser obtido por exames simples e rotineiros — a HbA1c e a glicemia de admissão — e sugerem que o indicador poderia ajudar a identificar pacientes que demandam estratégias de proteção miocárdica mais intensas, incluindo controle da glicemia e terapias como betabloqueadores.
Os autores afirmam que serão necessários estudos de validação em outras populações e investigações sobre os mecanismos moleculares por trás da associação. Dados relacionados à mortalidade do grupo, recolhidos ao longo de uma década de acompanhamento, serão divulgados em publicações futuras.