Relatório divulgado pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) concluiu que a fadiga da tripulação pode ter sido um fator no acidente do voo 2283 da Voepass, ocorrido em 9 de agosto de 2024 em Vinhedo (SP).
A auditoria examinou as escalas do comandante e do copiloto entre maio e o dia da queda e identificou descumprimentos à Lei dos Aeronautas, à convenção coletiva e falhas no controle das jornadas de trabalho. Segundo o MTE, as folgas planejadas pela empresa reduziram o tempo de descanso dos profissionais, comprometendo a concentração e os reflexos da tripulação.
Em consequência das irregularidades, a Voepass recebeu dez autos de infração que somam cerca de R$ 730 mil e foi notificada por omissões no recolhimento de FGTS que ultrapassam R$ 1 milhão. Em nota, a companhia afirmou seguir normas da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e ressaltou que apenas o relatório final do Cenipa terá condições de apontar as causas definitivas do acidente.
O avião, um ATR-72 fabricado em 2010, partiu de Cascavel (PR) com destino a Guarulhos e, durante a aproximação, às 13h21, perdeu altitude e caiu em espiral em um condomínio de Vinhedo, explodindo em seguida. As 62 vítimas incluíam 58 passageiros e quatro tripulantes — entre elas a comissária ribeirão-pretana Rúbia Silva de Lima — além de oito médicos, quatro professores universitários e duas crianças.
Relatório preliminar do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) apontou que a aeronave passou por condições favoráveis à formação de gelo; o sistema de degelo foi acionado e desligado repetidas vezes, indicação de possível falha operacional. Alertas de baixa velocidade e de performance degradada foram registrados momentos antes da queda.
Antes do acidente, em junho, a Anac havia cassado definitivamente o Certificado de Operador Aéreo da empresa — que operava anteriormente como Passaredo — após irregularidades apuradas em fiscalizações. Paralelamente, a Polícia Federal mantém investigação criminal em andamento. Em abril, a companhia já havia pedido recuperação judicial, alegando dívidas na ordem de R$ 429 milhões.